sexta-feira, 13 de março de 2009
Generation Gap
Ultimamente o tempo tem estado ameno e os primeiros indícios de primavera começam a surgir. Já vi andorinhas a voar sob os campos verdes e amarelos das azedas, em contraste com o céu azul e riscado por um ou outro avião. Ainda hei-de saber porque é que os aviões deixam o céu com efémeras cicatrizes brancas.
Os dias amenos trazem também as noites amenas, o céu claro torna-se negro, parece um manto de veludo cravejado de pequenos e brilhantes diamantes, e a lua confunde-se com um candeeiro de rua redondo e luminoso.
Perdida na contemplação poética do mundo e do universo, no tempo, no que era antes do tempo e no que poderá ser depois do tempo, em toda esta maravilha fascinante que é a vida, e a tal história da dialéctica pé – mão – cérebro, da maravilhosa obra de engenharia que é o corpo humano, geração após geração de inovações tecnológicas que se vão adaptando às necessidades da evolução da espécie e do universo, centro-me em mim e penso como sou darwinista, e como sou mais um ser que se move sob a abóbada de constelações que nos envolve desde a Criação.- Que bela noite! – comenta a minha mãe, inspirando o aroma doce dos tufos de viburno ou, como ela chama, carameleira.
- Até parece uma noite desenhada a computador! - responde a minha sobrinha.
Acordo, ciente da outra realidade com que me deparo.
Que tempos tão diferentes dos meus, que foram diferentes dos meus pais e que foram diferentes dos meus avós... e sinto-me tão velha quanto a lua... porque razão, na cabeça de uma pré-adolescente, o conceito de noite magnífica é este? Uma geração que não estranhou este aparelho, como eu estranhei, mas que já o trouxe nas entranhas, instalado nos genes, uma geração cujos dedos nasceram para as teclas do teclado. Para eles, a perfeição e a ordem vem da dialética homem-computador-tecnologia, e nessa dialética o real pode ser sempre aperfeiçoado, organizado e conquistar o belo, como pequenos deuses.
É uma geração que pensa diferente, mas que vai continuar a ser aperfeiçoada, uns vão construir coisas boas e outros vão fazer coisas más, mas irá continuar o nosso caminho, e daqui a milhares de anos seremos apenas um rasto da nossa passagem, como o rasgo branco do avião.
- Sim -digo eu-, parece realmente uma noite desenhada a computador.
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7 comentários:
Ui as azedas…
Fiquei logo bloqueada nesta parte.
Que belos tempos… Eu e o resto do grupo sentados nas traseiras da escola. Enquanto uns jogavam, outros namoriscavam… e nós. Sentados no chão e no meio das mochilas que eram deixadas de qualquer maneira. Sentadas a rir e a falar sobre tudo e nada. Cada uma com a sua azeda.
Um ritual que sem ser programado era tão bom.
Lembro-me de ter perguntado a uma das minhas sobrinhas se conhecia as azedas. Respondeu-me que não. Expliquei-lhe. Fez aquela cara. Cara de estranheza e olhou-me como se fosse algum bicho.
- Mastigavam isso pq? Não vos fazia mal?
Não me recordo de ninguém que tenha tido algum desarranjo intestinal por causa disso. E mesmo que tenha dito, virou a folha e continuou a atacar as azedas.
Ah bons e velhos tempos.
Relembro com um sorriso.
Boa Semana.
A minha sobrinha ficou tão entusiasmada com a descoberta das azedas que resolveu investigar mais plantas e atracou-se ao caule de um jarro, pensando que este seria ainda mais suculento... Parecia uma lagartixa doida, desesperada porque a boca lhe ardia. Esteve 2 dias a falar à «thopinha the matha»(sopinha de massa).
Cara "BatRitinha",
Belíssimos "posts" que estavam guardados há tanto tempo...
Já deverias ter chegado mais cedo...
Beijinhos,
António Serra
Amigo Serra, muito obrigada pela sensibilidade e incentivo! Beijinhos!
O rasto dos aviões é provocado por uma força aerodinâmica devido a resistência do ar, que se opõe ao avanço de um corpo. Essa força depende de alguns factores como a forma do corpo, a sua rugosidade e o efeito induzido resultante da diferença de pressão entre a parte inferior e superior da asa.
Um choque de particulas portanto!
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Nada tenho acrescentar a essa forma particularmente bela como descreveste esta Primavera. Que bom estar na rua a escrever isto, de manga curta às 21:30!
F3lixP, bem-vindo a este blog! Muito obrigada pela tua explicação, finalmente fiquei a saber acerca de algo que realmente me intrigava! Também acho fantásticas estas temperaturas amenas à noite, já tinha saudades.
Olá :-)
Desafiaram-me. Cumpri mais ou menos. Agora resta-me desafiar-te.
Passa pelo meu cantinho, a chave esta debaixo do tapete como de costume, entra e aceita lá o desafio que tenho para ti.
Beijinho.
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