quarta-feira, 17 de junho de 2009

Comédias da vida...

Às vezes tenho a nítida sensação de que estar no meu emprego é o mesmo que estar numa sitcom.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Huf...!...ts-ts-ts.... pois é...

Quando se vem trabalhar num dia mole e pastoso, como uma 6.ª feira a seguir a um feriado, só se tem vontade de fazer sei lá o quê com não sei quê mais para não sei quem, e mandá-los nem sei para onde!

terça-feira, 2 de junho de 2009

A velha Singer

Existe uma máquina de costura, lá em casa, que me conta coisas sem falar comigo. Faz parte da família.

É uma Singer a pedal de cabeça preta com desenhos dourados, lascada pelo tempo e por ter passado por todas as mulheres lá de casa. Também passou pelas mãos do meu pai, que a arranjou sempre que tinha um problema.

Balançando com o pé no pedal que puxa a correia que já foi arranjada e rearranjada inúmeras vezes, faz girar uma grande roda que acciona todo o mecanismo.

Pés de ferro trabalhado e pintado a castanho, tampo da mesma cor, por baixo do qual está uma alavanca negra, forrada a esponja para não magoar o joelho direito com que a empurramos, para levantar o calcador.

Tem uma gaveta do lado esquerdo com o puxador prateado a cair, em forma de bola com mossas do tempo, onde se guarda a melhor tesoura da casa, junto com algumas peças que não servem para nada, mas que um dia poderão servir.

Gosto de ver as linhas a percorrerem em espiral os distribuidores, desde o caneleiro até à agulha que perfura o tecido e o cose, habilmente, ao ritmo do pé, travando ou rematando com a roda de mão.

Tem o cheiro acre da madeira antiga, e o vigor mecânico e ritmado de uma máquina que, por ser simples, se manteve a trabalhar ao longo das décadas. Naquele tempo não se pensava na reforma.

Sempre me lembro de ser guardada sob uma cortina grossa de sarja verde com flores rosa, um romântico estampado rematado por um folho, costurada de propósito para o efeito.

Lembro-me dela morar durante muitos anos n’«aquela casa», uma grande sala que foi parte da primeira fábrica do meu pai que, depois de mudar para outras instalações, passou a funcionar como um anexo da casa onde a minha mãe tratava da roupa.

Ficava muda sob a janela de ferro e vidro martelado, por onde escorria a luz amarelada do sol ou, estando aberta, entravam as flores regadas de fresco rodeadas de abelhas, até que alguém viesse conversar com ela, com um fecho para mudar ou uma baínha para coser.

A minha mãe bordou nela, a bastidor, grande parte do enxoval, flores, ramagens e monogramas em panos e lençóis brancos com cores mais garridas ou mais discretas, que depois engomava e guardava na arca para só usar nos dias de festa, ou, não chegando a ocasião, ficar de herança para as filhas.

Foi também alvo das atenções da minha irmã que, habilidosa e criativa, no inicio às escondidas, conquistando depois a autorização para a manusear, fazia nascer matrafonas de algodão branco, com vestido e touca a preceito que fazia de restos de tecido debruado a rendinhas que tirava da velha lata azul das bolachas, e de onde tirava também as fitas de seda que atavam as tranças de lã com que fazia os cabelos. Ao lado da lata azul, estava sempre a lata cor-de-rosa dos bombons, casa dos botões de variadíssimas formas e cores, mais ou menos diferentes, alguns novos à espera de uso, mas na sua maioria aproveitados de roupas que se desmanchavam e que eu conhecia muito bem.

Obedecendo à tradição familiar, foi-me permitido também aprender a coser à máquina, a controlar o balanço do pedal, devagarinho... mais depressa... usando a mão para travar a roda ou rematar, e assim conversar com a velha Singer.

Em casa dos meus pais, sempre houve máquinas de costura ao meu redor, mais ou menos sofisticadas, umas que nunca avariavam, outras que nunca funcionavam bem. Mas aquela máquina de costura atingiu, pela sua herança, pela sua antiguidade, o estatuto de relíquia, um valor sentimental e intransmissível, como a presença de várias gerações.

terça-feira, 26 de maio de 2009

A FELICIDADE É A CAUDA DO CÃO



Vou contar-vos uma história que ouvi um dia e que mudou a minha perspectiva de felicidade. Já a contei a alguns amigos que passam por aqui, mas agora repito-a para aqueles que não a conhecem ou querem lembrar.


Era uma vez um cão. E era uma vez um gato. Ambos viviam na mesma casa.
O cão costumava correr atrás do gato, e o gato costumava subir ao muro alto do jardim para fugir do cão. Era uma canseira.
O cão andava sempre agitado, quando não era atrás do gato, era a fazer buracos no jardim, ou a correr atrás da sua própria cauda até cair para o lado. Depois descansava um pouco e recomeçava tudo de novo.
Certo dia o gato, no seu refúgio no alto do muro, estava a observar o cão naquela tarefa intrigante de perseguir a própria cauda, quando finalmente a curiosidade venceu o medo, porque os gatos são mais curiosos do que medrosos, e resolveu perguntar:
- Psssst... Cão... ó Cão. Cãao!!!... Hei!
- Que é que foi, ó Gato? Não vês que estou ocupado?!
- É só uma pergunta!!!
- Tu queres perguntar-me uma coisa?!? Ora essa...!
- Desculpa lá, estou para aqui a pensar... o que é que tu estás a fazer?!?
- EU? Então não vês?! (Este gato é mesmo estúpido!) Vou explicar: Vês isto aqui atrás? Isto que abana?! É a minha cauda e assim que vou atrás dela, foge e não consigo apanhá-la... por mais voltas que dê, quando estou mesmo quase a tocar-lhe, foge logo!... Mas hei-de conseguir um dia.
- E para que é que a queres apanhar?
- Para quê?! Porque nunca a apanhei e quando conseguir vou ficar muito feliz! Ora para quê!
- E o que é que fazes com ela depois?
- Então, depois... depois apanho-a outra vez, e outra, e outra...
- É por isso que corres atrás de mim, para apanhar a minha longa cauda de gato?
- Claro! Quando trincar a tua rica e longa caudinha e a fizer curta como a minha, vou ficar mesmo muito contente, vais ver!
- Oh Cão, desculpa lá, mas tu és um palerma!
- Eu?! Palerma?!? Que atrevimento! Se eu conseguisse subir o muro, arrancava-te já a cauda para veres como é! Palerma...!
- É o que tu és. Isso não faz sentido nenhum, e se não consegues perceber porquê, eu explico.
- Ai é? Então explica lá, a ver se me convences.
- Bem... se tu andares em linha recta, assim como quando corres ou fazes buracos, onde está a tua cauda? Vai atrás de ti, não é?
- Sim, claro...
- Então quer dizer que se ela vai atrás de ti, é porque já te pertence. E se te pertence, é tua, não precisas de a apanhar, ela vai sempre atrás de ti para onde fores. Não és mais feliz assim?
- Bem, ó Gato... assim... em linha recta.... hum, lá isso parece que sim... eu ando... olha! Vem cá atrás!... acho que tenho de te dar razão... mas espera lá, e a tua?
- A minha? Se eu andar para a frente, ela vai comigo. Mas se quiseres, também pode ir contigo, a escolha é tua.
- Minha?! Como é que a podes deixar ir comigo?
- Podes escolher: se me continuares a perseguir, a minha cauda vai estar sempre à tua frente, mas se me deixares caminhar contigo, ela vai connosco.
- Olha, Gato, pensando bem, acho que tens razão... surpreendeste-me! Porque é que não desces daí e vamos passear os dois?
- Tens a certeza que não me vais morder?!
- Sim, claro que tenho. Assim, em vez de perseguir uma cauda, ficamos com duas (e a tua ainda é mais longa!) que vêm atrás de nós. Para dizer a verdade, já começava a ficar farto de andar às voltas e encontrar sempre o meu próprio rabo...

A partir desse dia, Gato e Cão caminharam juntos até ao pôr-do-sol... e para além disso.
Tal como a cauda do cão, assim é a felicidade: já a temos, só nos falta a atitude de sermos felizes.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Lana Caprina

Dahucapra Rupidahu: um documentário delicioso.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Evolução

Todos os dias me devia sentar em frente ao computador e escrever um pouco que fosse. Devia ser assim, disciplinada, regular, certinha, atilada.
Mas não sou.
Sento-me ao computador, escrevo só quando me dá na bolha, e muitas vezes nem sei muito bem acerca do quê.
Ainda por cima, num dia de sol tão morninho, eu podia ir lá para fora, onde a vida realmente acontece, mas não, fico aqui a premir as teclas nem sei bem para dizer o quê.
Tenho é vontade de juntar letras, juntar palavras, juntar migalhas a ver se dá um bolo. É o que se chama de «começar ao contrário».
O que interessa é começar.
Tal como diz na Bíblia, esse grande best selller de inúmeras edições, «No princípio era o verbo». Contrariamente à ambiguidade do que se interpreta na Bíblia, o que se passa na minha cabeça é muito linear. Não tenho um só verbo, mas muitos verbos, muitos sujeitos, nomes e artigos que tento alinhar numa articulação gramatical que se perceba.
Até agora, demasiado confuso.
Tudo bem, também não sei para onde vou. Nem de onde venho.
Não faço ideia onde este texto me vai levar, parece que comprei um bilhete sem destino. E se alguém que está aí me lê, então está a viajar comigo neste passeio que dá a volta ao quarteirão da minha cabeça.
Tendencialmente, nessas voltas ao quarteirão, acabo por quase sempre encontrar algo conhecido. Raramente é o que interessa, ou quem pensamos que interessa.
Confesso que gostava de poder viajar nos pensamentos dos outros, atravessar a porta dos seus pensamentos e manter-me tal e qual como no National Geographic da mente humana, atrás de um arbusto de neurónios. É demasiado indiscreto, eu sei, e por isso a natureza teve o bom senso de nos manter assim, fechados dentro das nossas caixas cranianas, no nosso corpo com as nossas limitações. Felizmente não evoluímos assim tanto... vida unicelular – macacos - homem. E a diferença do 2.º para o 3.º não é assim tão grande.
Considero-me uma darwinista, alguém que acredita que vimos de uma evolução de milhares de anos para servir de elo de transmissão do código genético, que lega a uma próxima geração as informações que são precisas para continuar a existir face às condicionantes do meio onde vive.
A teoria da evolução por selecção natural traz-me algum conforto, e explica-me por hipótese uma série de coisas que de outra forma eu não conseguia entender.
Coisas simples, básicas e generalistas, como a capacidade do homem se orientar no espaço e a mulher ser capaz de fazer várias coisas ao mesmo tempo – o macho orientar-se-ia no terreno de caça e a fêmea ficava com as crias;
Porque é que as mulheres são capazes de ter vários orgasmos e os homens depois de terem um adormecem de seguida, ou, ainda mais abrangente, porque é que existe infidelidade – para assim que a fêmea acabar de acasalar com um, possa passar para outro de forma a garantir uma gravidez... e para que o macho possa propagar a prole em competição com os outros machos;
Porque é que as mulheres desenvolvem o instinto maternal e o homem o desportivo – porque elas são responsáveis pela sobrevivência da cria e eles defensores do território.
De todos estes exemplos conheço as excepções, e todos eles existem devido à lei da propagação da espécie e ao evolucionismo. Instintos básicos herdados de uma sociedade que não estava ordenada com os valores que conhecemos agora, mas segundo as regras da sobrevivência.
Com o tempo fomos progredindo, eliminando em percentagem as ameaças à sobrevivência da raça humana até sermos O animal dominante, organizámo-nos em religiões, filosofias, políticas, economias, numa sociedade cada vez mais complexa e evoluída tecnologicamente.
Os homens deixaram de caçar, as mulheres saíram de casa para trabalhar, os filhos ficam no infantário, todos saem das suas casas com elevador, banheira de hidromassagem, gás canalizado, TV cabo, internet, ar condicionado... aprendemos o alfabeto, aprendemos línguas, aprendemos a premir as teclas do computador, a juntar letras que formam palavras que são frases que nos trazem até aqui, de regresso à volta do quarteirão, a este momento, onde estou eu.
E tu.