terça-feira, 21 de abril de 2009

Maria


A minha Maria foi um pequeno milagre que apareceu sem ninguém pedir, a peça da engrenagem que faltava para dar sentido a muitas coisas, e a chave de muitas alegrias.
É Maria como as outras e tem outro nome como o meu. Fiquei muito orgulhosa porque o nome é um pedaço de nós e ela assim tem um pedacinho meu que lhe pertence para sempre que a vai fazer lembrar-se de mim mesmo quando eu já cá não estiver.
A minha Maria é alegre, sorridente, simpática, inteligente, esperta, desinquieta, barulhenta, faladora, generosa, compassiva, destemida, energética, trepava a tudo, partia tudo, fazia birras cheias de lágrimas, dava gargalhadas cheias de cócegas, e quando estava a aprender, olhava-me atenta, com aqueles olhinhos muito abertos redondinhos e arrebitados nos cantos, como duas vírgulas.
A minha Maria começou careca, cabecita de pêssego, para ganhar anéis torradinhos, e depois um abundante e lindo cabelo cor de castanha de gente grande.
Gostava de lhe dar beijinhos no nariz, entre os olhos e as sobrancelhas macias, e de a adormecer nos meus braços, enquanto me agarrava o dedo com a mão quente rechonchuda e macia, até o largar, ficando abandonada aos sonhos e ao mundo, e eu a respirar aquele cheirinho a bebé delicado.
A minha Maria sempre gostou de experimentar as palavras e por isso falava até as esgotar, de experimentar os raciocínios, de experimentar os sabores, de experimentar as texturas, de gritar e cantarolar, articulando os lábios muito bem desenhados a lápis cor-de-rosa.
A minha Maria gostava de cor-de-rosa mas agora gosta mais de outras cores, gosta de massa, de gomas, de fazer bolos, e de brincos-de-princesa.
A minha Maria chama-me sempre por aquela palavra única, que me faz sentir saudades e procurá-la pelo canto do olho quando ouço outra criança dizê-la.
A minha Maria era pequenina e ficou grande depressa demais, mas para mim é sempre pequenina, sempre minha e sempre Maria.

2 comentários:

Young Liberty disse...

Olá amiga,

A tua "Maria" lembra-me os meus filhos que cresceram... depressa demais. Agora aguardo pacientemente... a vinda dos meus netos (de quem eu já gosto antes mesmo de terem nascido)

Buck Jones

Gena disse...

Olha, gostei tanto do texto, achei tão carinhoso que até estou quase com a lágrima no olho... até parecia quase uma despedida.

Beijinhos.