Peguei no rolo de metal e numa tesoura e segui-a até à casa de banho, onde observava, à luz amarela do espelho, o aro em volta do pescoço. Pedi-lhe que me cortasse um pedaço de arame, e ela, distraída, respondeu que o fizesse eu.
Dei uma tesourada no dedo indicador esquerdo e o arame ficou inteiro.
Corri, com lágrimas e sangue, direito à minha mãe que me acudisse. Entre pranto e frustração, penso eu que numa tentativa de acalmar, disse-me o meu tio, debaixo do seu chapéu preto e apoiado na sua bengala de madeira castanha, que as tripas não me iam sair por ali.
Achei uma observação lógica.
Sequei as lágrimas dos olhos, e a minha mãe secou o golpe no dedo, que protegeu com um penso rápido.
Ainda hoje tenho essa cicatriz. Já esteve bem mais nítida, foi-se esbatendo no tempo com os vincos da pele. Uma marca ligeira como as (des)preocupações da infância, da presença de pessoas que já nos deixaram há muito, e a presença dos que ainda nos acompanham.
Por isso, há cicatrizes doces.